Rígsþula (Canção de Rígr)
Rígsþula (Canção de Rígr) é um poema Eddico encontrado apenas no Codex Wormianus que é um dos manuscritos da Edda em Prosa de Snorri Sturlusson.Infelizmente esse poema hoje está incompleto e narra a saga sobre como Rígr (Heimdallr) fundou as bases da sociedade humana.Embora muitos estudiosos especulam que Rígr talvez não seja Heimdallr, o poema Völuspá parece confirmar essa associação, onde os homens são chamados de "filhos de Heimdallr" (Völuspá 01/4). Rígsþula também é conhecido como Rígsmál.
Rígsþula
Assim dizem os homens em antigas sagas,que um dos Æsir, que é chamado Heimdallr, viajando em suas jornadas de uma certa praia do mar, chegou a uma fazenda e se chamou Rígr*. Depois essa saga é cantada assim:
01 - Em tempos antigos é dito que passou por caminhos verdes, poderoso e antigo, o sábio Áss, forte e bravo, Rígr, caminhando.
02 - Ele foi no meio do caminho*; ele chegou em uma casa, a porta estava no batente; ele foi para dentro, fogo estava no chão; um homem e uma mulher se sentavam ali, grisalhos, na lareira, Ái e Edda*, cobertos com um capuz*.
03 - Rígr sabia que conselhos dizer; ali se sentou no meio, e em ambos lados estavam o casal domestico.
04 - Então Edda pegou um pedaço de pão, grande e grosso, com farelos; ela trouxe além disso, para o meio da mesa, caldo* numa tigela, sentou-se a mesa; o bezerro cozido estava o mais delicioso.
05 - Rígr sabia que conselhos dizer; então ele se levantou dali, pronto para dormir*; ele logo foi para o meio da cama, e em ambos lados estavam o casal domestico.
06 - Ali ele ficou, juntos por três noites, então ele foi para o meio do caminho; nisso se passaram nove meses.
07 - Uma criança gerou Edda, na água o mergulharam*,
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de pele escura*, e o chamaram de Þræll*.
08 - Ele cresceu e floresceu bem; ali estavam rugas em suas mãos, articulações tortas,
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dedos robustos, face medíocre, costas encurvadas, longos calcanhares.
09 - Ele começou com isso, a tentar sua força, amarrou cordas*, carregou cargas; com isso ele carregava para lar arbustos ao longo do dia, exausto.
10 - Lá na habitação veio uma serva andando, estava com barro na sola dos pés, braços queimados pela Sól*, o nariz era curvado, denominada Þír*.
11 - No meio, ela se sentou; ela se sentou ao lado do filho da casa; falando e conversando, prepararam a cama Þræll e Þír, em melancólicos dias.
12 - Eles tiveram crianças, -e viveram felizes,- eu acho que as crianças se chamavam Hreimr e Fjósnir, Klúrr e Kleggi, Kefsir, Fúlnir, Drumbr, Digraldi, Dröttr e Hösvir, Lútr e Leggjaldi*; eles faziam cercas, colocavam estrume no campo, alimentavam os porcos, guardavam as cabras, escavavam a turfa.
13 - Suas filhas eram Drumba e Kumba, Ökkvinkalfa e Arinnefja, Ysja e Ambátt, Eikintjasna, Tötrughypja
e Trönubeina*. Daí vieram a família dos escravos.
14 - Nisso Rígr foi em caminhos retos, ele chegou em um salão, a porta estava semi-aberta, ele foi para dentro, havia fogo sobre o pavimento, homem e esposa se sentavam ali, ocupados com o trabalho.
15 - O homem fazia ali uma vara de tear de madeira; a barba estava formada, o cabelo estava volumoso em sua testa, sua túnica apertada, uma arca estava no solo.
16 - Ali se sentava uma senhora, girando uma roca de fiar, com braços estendidos, fazendo roupas; um capuz estava sobre sua cabeça, usando um guarda-pó sobre o peito, um manto estava sobre o pescoço, e um broche sobre os ombros. Afi e Amma* eram os donos da casa.
17 - Rígr sabia que conselhos dizer; [ele se sentou no meio, e em ambos lados estavam o casal domestico].
18 - [Então Amma pegou
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o bezerro cozido estava o mais delicioso.
19 - [Rígr sabia que conselhos dizer;] ele se levantou da mesa, pronto para dormir; ele logo foi para o meio da cama, e em ambos lados estavam o casal domestico.
20 - Ali ele ficou, juntos por três noites; [então ele foi para o meio do caminho;] nisso se passaram nove meses.
21 - Uma criança gerou Amma, na água o mergulharam, chamando-o Karl*, a mulher agasalhou-o com roupas, ele era de rosto avermelhado e ruivo, com olhos trêmulos*.
22 - Ele cresceu e floresceu bem, domesticou bois, construiu o arado, edificou casas de madeira e construiu estábulo, construiu a carroça e conduziu o arado.
23 - Então para essa casa se dirigiu uma noiva com chaves balançado no cinto*, com túnica de pele de cabra, e se deu em casamento para Karl; e chamada Snör*, e se sentava coberta com um véu; o homem e esposa viveram juntos, trocaram anéis, cobriram-se com lençóis e fizeram um lar.
24 - Eles tiveram crianças, -e viveram felizes,- chamados de Halr e Drengr, Hölðr, Þegn e Smiðr, Breiðr, Bóndi, Bundinskeggi, Búi e Boddi, Brattskeggr e Seggr*.
25 - Mas assim que se chamavam os nomes dos outros, Snót, Brúðr, Svanni, Svarri, Sprakki, Fljóð, Sprund e Víf, Feima, Ristill*. Daí vieram a família dos homens rústicos.
26 - Nisso Rígr foi em caminhos retos; ele chegou em um salão, com a porta em direção ao sul, a porta estava semi-fechada, havia um anel no batente da porta.
27 - Nisso ele entrou, o pavimento estava coberto com palha; o homem e esposa estavam sentados, olhando-se com os olhos, Faðir e Móðir*, que brincava com os dedos.
28 - O homem da casa estava sentado e enrolava o fio, na curva do arco, e preparava flechas; mas a esposa olhava nos próprios braços, alisando as roupas, dobrando as mangas.
29 - Ela tinha um véu, havia um broche em seu peito, um longo vestido, uma camisa azul; sobrancelhas brilhantes, seios iluminados, e pescoço branco, mais puro do que a neve.
30 - Rígr sabia que conselhos dizer; ele se sentou no meio, e em ambos lados estavam o casal domestico.
31 - Então Móðir pegou um pano bordado, de linho branco, cobriu a mesa, nisso ela pegou um pão fino, de trigo branco, e colocou sobre o pano da mesa.
32 - Adiante ela trouxe pratos cheios, cobertos* com prata,
--* na mesa
com presunto branco e pássaros assados, o vinho estava no jarro, os copos eram trabalhados; bebiam e conversavam, o dia estava no fim.
33 - Rígr sabia que conselhos dizer; nisso ele se levantou, e preparou a cama. Ali ele ficou, juntos por três noites; então ele foi para o meio do caminho; nisso se passaram nove meses.
34 - Um garoto gerou Móðir, em seda embrulhou-o, na água o mergulharam, colocaram-lhe o nome de Jarl*; louro* era seu cabelo, face brilhante, olhos penetrantes como as das jovens serpentes.
35 - Ali cresceu Jarl, no salão, aprendeu a sacudir o escudo, colocar corda, em arcos curvados, pontas nas flechas, atirar dardos, sacudir a lança, cavalgar cavalos, caçar com cães*, manejar a espada, a nadar.
36 - Ali do bosque veio Rígr andando, Rígr andando, ensinou-lhe runas, transmitiu-lhe o seu nome*, chamou-o de seu próprio filho; ele pediu para este para que possuísse seu patrimônio, o patrimônio de antigas habitações.
37 - Dali ele cavalgou através da Myrkvið*, sobre montanhas cinzentas, até que ele chegou em um salão; ele sacudiu a lança, brandiu seu escudo, cavalgou seu cavalo e atirou sua espada, guerras levantou, planícies avermelhou*, derrubou corpos, lutou por terras.
38 - Nisso ele governou sozinho dezoito salões, riquezas conseguiu acumular, doou a todos tesouros e preciosidades, e belos cavalos; anéis distribuiu, cortou em pedaços os braceletes*.
39 - Seus nobres se dirigiram para úmidos caminhos, chegando em um salão, onde habitava Hersir*, ele tinha uma filha de dedos finos, clara e sábia, chamada Erna*.
40 - Pediram por ela* e se dirigiram ao lar, a deram em casamento para Jarl, ela foi coberta com linho; eles viveram juntos e estavam felizes, tiveram uma família e viveram felizes.
41 - Burr era o mais velho, e Barn o segundo, Jóð e Aðal, Arfi, Mögr, Niðr e Niðjungr, - que se ocupavam com jogos, - Sonr e Sveinn, - nadavam e jogavam, - um se chamava Kundr, Konr* era o mais jovem.
42 - Ali cresceram os filhos de Jarl, treinando cavalos, empunhando escudos, cortando flechas, sacudindo os freixos*.
43 - Mas o jovem Konr conhecia as runas, runas eternase runas da vida; ele conhecia mais, que ajudavam os homens, embotava as espadas, e acalmava o mar.
44 - Conhecia o canto dos pássaros, aquietava o fogo, adormecia as mentes*, acalmava as tristezas, ele tinha a força e resistência de oito homens*.
45 - Ele e Rígr Jarl compartilharam runas, mediu-se suas habilidades com ele e sabia mais, então venceu e pode se dar o nome de Rígr*, o conhecedor das runas.
46 - O jovem Konr cavalgou pelos bosques e florestas, atirou dardos, aquietou pássaros.
47 - Então um corvo disse isso, que estava pousado num galho: "Por que,jovem Konr, você aquieta pássaros? em vez disso você poderia cavalgar cavalos, [manejar espadas] e matar heróis.
48 - Danr e Danpr* possuem um querido salão, altas propriedades, mais do que você tem; eles sabem bem
conduzir um navio, a usar a lâmina, e fazer feridas*."
Notas:
*Rígr possivelmente significa "Rei" e está certamente associado com a palavra em Velho Irlandês "ri" ou "rig" com o mesmo significado.
02/2* Miðgarðr.
02/9* Ambos significam "Bisavô" e "Bisavó".
02/10* Edda, Amma e Móðir aparecem todas cobertas com um capuz ou véu.
04/7* Esse caldo era feito com a água que era cozinhada com a carne.
05/4* O manuscrito tem a ordem dessas estrofes invertidas e aqui elas estão re-arranjadas.
07/2* Essa prática é o Ausa Vatni ("Mergulhar nas Águas").
07/4* O manuscrito parece indicar uma lacuna.
07/5* Pele e cabelos escuros parecem indicar origem estrangeira entre os escandinavos. Saxo Grammaticus no Gesta Danorum relata que Haddingus ofertava vítimas negras em honra de Freyr. Esse festival anual era conhecido como Frøblót ("Sacrifício de Freyr").
07/6* Significa "Escravo".
08/6* O manuscrito parece indicar uma lacuna.
09/3* Cordas feitas de certas árvores.
10/4* O Sol ("Sól") é feminino no norte e a Lua ("Máni") é masculino.
10/6* Þír significa "Mulher Servente".
12/9* Os nomes significam: Hreimr ("Aquele Que Fala Alto"), Fjósnir ("Homem do Gado"), Klúrr ("Grosseiro"), Kleggi ("Mosca de Cavalo?"), Kefsir ("Guardião de Concubina"), Fúlnir ("Fedorento"), Drumbr ("Tronco"), Digraldi ("Gordo"), Dröttr ("Preguiçoso"), Hösvir ("Cinzento"), Lútr ("Aquele Que Está Sentado") e Leggjaldi ("Perna Longa").
13/8* Os nomes significam: Drumba ("Tora"), Kumba ("Toco"), Ökkvinkalfa ("Pernas Gordas"), Arinnefja ("Que Cheira a Simples"), Ysja ("Barulhenta"), Ambátt ("Servente"), Eikintjasna ("Cavilha de Carvalho?"), Tötrughypja ("Vestida em Trapos") e Trönubeina ("A Que Estica as Pernas?").
16/9* Ambos significam "Avô" e "Avó".
18/2* O manuscrito está incompleto.
21/3* Significa "Homem (Rústico)".
21/6* É de se notar uma leve semelhança na descrição de Karl com o Deus Ruivo Þórr. Ambos possuem pele avermelhada, cabelos ruivos e modos rústicos.
23/2* No poema Þrymskviða é dito que quando Þórr se disfarçou de Freyja usou chaves em seu cinto quando foi para Jötunheimr.
23/5* Significa "Nora".
24/8* Os nomes significam:Halr ("Homem"), Drengr ("O Forte"), Hölðr ("Proprietário"), Þegn ("Homem Livre"), Smiðr ("Artesão"), Breiðr ("O De Amplos Braços"), Bóndi ("Fazendeiro"), Bundinskeggi ("O De Barba Dividida"), Búi ("Vizinho"), Boddi ("Proprietário de Fazenda"), Brattskeggr ("O Que Carrega Grande Barba") e Seggr ("Homem").
25/6* Os nomes significam:Snót ("Digna"), Brúðr ("Noiva"), Svanni ("A Esbelta"), Svarri ("A Orgulhosa"), Sprakki ("A Bela"), Fljóð ("Mulher?"), Sprund ("A Orgulhosa"), Víf ("Esposa"), Feima ("A Tímida") e Ristill ("A Graciosa").
27/5* Ambos significam "Pai" e "Mãe".
32/3* Trabalhados.
32/4* O manuscrito está danificado, mas acredita-se que a estrofe começava assim:"...os colocou..."
34/4* Significa "Nobre". É de se notar que os chefes eram associados com a sabedoria das runas e ao culto de Óðinn.
34/5* Os cabelos são um tom louro esbranquiçado.
35/10* Estrofe meio difícil de se interpretar, pode ser uma alusão ao treinamento do cão para a caça ou de puxar o trenó.
36/5* Heimdallr dá seu título de Rígr para seu filho Jarl.
37/2* Significa "Floresta Negra".
37/10* Com o sangue dos inimigos.
38/8* Isso servia como dinheiro em tempos antigos na Escandinávia.
39/4* Significa "Senhor".Em antigos dias antes do estabelecimento de um reino na Noruega, Hersir era tido como um chefe local e possuía grande autoridade.
39/8* Significa "A Capaz".
40/1* Pediram o consentimento para o pai dela (ou dela própria) para poder se casar com Jarl.
41/10* Os nomes significam: Burr ("Filho"), Barn ("Criança"), Jóð ("Criança"), Aðal ("Descendência"), Arfi ("Herdeiro"), Mögr ("Filho"), Niðr ("Descendente"), Niðjungr ("Filho"), Sonr ("Filho"),Sveinn ("Garoto"), Kundr ("Parente") e Konr ("Filho").
42/6* Lanças.
44/3* Também é traduzido como "adormecer o mar".
44/6* Esses encantamentos são muitos semelhantes aos que são descritos no Hávamál.
45/7* Konr e seu pai Rígr-Jarl mediram conhecimentos rúnicos e terminou com a vitória de Konr. Com isso ele passou a usar o título de Rígr depois de seu pai. Isso talvez indique que o filho era capaz de suceder o pai e que a herança era passada de pai para filho.
48/1* Acredita-se que o Rígsþula possa ter sido redigido na Dinamarca. Fragmentos da Skjöldungasaga afirmam que Rig (ou Rigus) era casado com Dana, a filha de Danp, o senhor de Danpsted. Conta-se que quando ele ganhou o título real de sua província, ele deixou isso como herança para Dan (ou Danum), seu filho com Dana, de onde vieram os Dinamarqueses.
48/8* É uma pena,mas o manuscrito termina abruptamente.
Essa tradução foi feita por Marcio A. Moreira (Vitki Þórsgoði).

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